Saturday, October 29, 2005

A uma zeladora de manicômio

Foi a louca varando o cemitério,
Entre placas e cinzas sepulturas,
Correndo e se lembrando das agruras
Que sofreu por um dito homem sério.

Gritava cada grito mortuário,
Que, por pouco, não vinham de alhures
As almas, os fantasmas e os lêmures
Atentar com afinco temerário.

Gritava. Gritou muito e ficou rouca
Bem rouca, incapaz de dar um pio.
E ela, a louca, no seu desvario,

Com a cautela duma mulher grávida,
Calou-se e aguardou a morte ávida.
Pensando em caravelas, ela, a louca...

Saturday, October 01, 2005

Penalidade mínima

Todos nós já estamos ronaldinhos de saber que o Brasil é o país da corrupção. Tem mensalão e mensalinho e mensalaço e propina e mentira e deputado e caixa dois e senador e desvio de verba e prefeito e igreja e vereador e presidente e traficante e pizza e promessa e eleição e CPI... Enfim, um sem número de disparates dos quais nem Deus duvida.

Não adianta tratar aqui, por meio de arengas psico-filosóficas, dos fatores que motivam um elemento a praticar atos ilícitos. O fato é que, em cada engrenagem da máquina administrativa brasileira, há pelo menos um dente sujo e guloso.

Como se fosse pouca coisa o escândalo armado ao redor dos ladrões elegantes de terno e gravata, resolveram descobrir outro ainda mais audacioso e, para os torcedores ferrenhos, ainda mais grave.

Pois é, resolveram descobrir a corrupção futebolística. Simplificando, é a manipulação de resultados por meio da compra de juízes. O árbitro arbitrário recebe a grana, marca uns dois pênaltis absurdos, expulsa uns dois desgraçados e, no final, todos felizes (menos a torcida injustiçada, é claro).

Sei que, se continuar assim, o futebol vai perder a graça. Com que estímulo, o cidadão vai sair mais cedo do trabalho pra ver o Corínthians apanhar? Com raiva de quê, as torcidas vão guerrear ao redor de estádios? Se bem que são gangues travestidas de torcida... De todo modo, o dinheiro vai encher ainda mais a bola e os bolsos dos envolvidos; em qualquer campo: político ou futebolístico.

Agora, o que é que escapa dessa nuvem? Se até o futebol, tido como o grande tesouro nacional, já foi corrompido e corroído... O Carnaval? Sei lá... Só espero que, no ano que vem, ninguém fique cabisbaixo ou boquiaberto depois que a Mangueira entrar...

No campo de grama ou no de cimento, a pilantragem é a mesma. É tudo lixo do mesmo saco. E a torcida já prevê o placar da partida: depois que misturarem os cartões do juiz, vai ficar tudo laranja... laranja da cor da meia dúzia de punidos.

Vamos, pois, tentar enxergar essa situação com um pouco mais de nietzschedez... Vamos, goleiros que somos, deixar de colocar a culpa na zaga e prestar mais atenção na bola.

E, antes que o juiz apite sem dar os acréscimos merecidos, deixo uma pergunta: "Tem jeito?!". Tem que ter...