Sunday, August 28, 2005

Epitáfio

Quando a foice da Morte impiedosa
Furar-me certeira no cocoruto,
O sangue do assoalho for enxuto,
Me fizerem a coroa de rosa,

Os conhecidos vierem em grosa,
Os cacarejos que agora escuto
Cessarem, e, finalmente, o luto
Reinar na sepultura melindrosa,

Quero que chamem o melhor coveiro,
Mandem pintar num rochoso letreiro
"Aqui não jaz nenhum poeta nobre

Nem pessoa que valha mais que um cobre,
Jaz um defunto inerte e brejeiro
Que, calado, falou o tempo inteiro"

Viracambote

Habituado a receber recusas,
Vivia o pobre lenhador da mata.
Nem sequer com a mais fina cantata,
Quebrava o coração das suas musas.

E, uma vez, por capricho do destino,
Saiu dum tronco de jacarandá
Uma jeitosa esquila a dançar
U'a espécie de tango argentino.

Pois foi que enamorou-se do animal,
E as juras d'amor eram constantes.
Daria a ela esquilos infantes

E as maiores nozes em cabedal...
Mas a diaba da esquila foi marota:
Fugiu e só pariu a bancarrota.