Mais uma
Mais uma crônica. Mais uma das raras crônicas que escrevo. Por mais que ela trate de coisas já desgastadas, é única e inédita. É como a rapariga conquistada com uma sedução relâmpago numa festa qualquer de adolescentes sedentos por algo além de livros e reprimendas dos pais; ou como a vigésima terceira dose de whisky de uma profissional liberal liberal. São, aparentemente, átomos que constituem a bolsa cor de rosa da patricinha de shopping, mas são únicas, têm RG único.
Se o leitor é gaiato, pode pensar o contrário. Não... o baixo corporal da rapariga é sempre o mesmo, o whisky mantém a mesma composição química e essa crônica não passa de mera cópia ou arremedo de crônica. Tem todo o direito, afinal não estamos numa igreja, e o tempo da ditadura já passou.
Se o leitor é sabido, pode achar que o cronista está só enrolando, ganhando linhas e atenções às custas de conhecidíssimos dogmas. A outra pensaria que está lendo e entendendo, mas não está. O soldado (me valendo de Mário Quintana) teria certeza de que isso faz sentido, já que pra ele tudo faz sentido. O vereador fela-da-puta diria que eu tenho futuro. Graciliano Ramos diria que o texto está uma porcaria, que seria melhor eu parar com isso. As pessoas de bem não são obrigadas a ler tais absurdos. E as opiniões acerca da crônica seriam inúmeras como os fios de cabelos da rapariga.
Já estou na vigésima terceira linha e não falei nada interessante ou deveras inédito, que valesse a pena de ler vinte e três linhas de letras mais ou menos míudas. Aqui, uns (se é que alguém ainda está lendo) já devem estar pensado ou falando "que merda!". Mas o fato é que acabo de fazer mais uma crônica.