Saturday, January 15, 2005

Carta cainita

Caro Barão de Volgogrado,

Escrevo esta missiva ao som de uma renitente tarantela. Que esses malditos bastardos aproveitem bem os últimos instantes das suas existências mesquinhas, pois, finda a escrita, descerei até lá e darei cabo de todos eles. Infligir-lhes-ei uma morte penosa e lenta, como eu sei que tu aprecias. Falando em castigos e assassínios, que é daquele sacerdote inconveniente que forcejava por levá-lo a senda do bom Deus? Estou certo de que teve o fim merecido.

Ah, como eu odeio Nápoles! Como eu odeio a Itália! A todo instante a Besta dentro de mim clama por uma farta torrente de sangue, mas o Homem a domestica com colossal dificuldade. Ah, como eu anseio pela partida dessa terra de mendigos repugnantes. Há algumas semanas, quando passei por Pisa, tive a quase incontrolável vontade de acabar com a inclinação daquela nauseabunda torre derrubando-a por completo. E Veneza, igualmente podre e repulsiva. Um verdadeiro esgoto a céu aberto.

Em toda a minha estada neste covil de vermes, só um episódio me agradou de fato. Lembra-te da lasciva Leonor? Decerto que sim, velho maroto. Estava, como sempre, belíssima no baile oferecido pelo duque de Cesena, ontem `a noite. Ah, que seios exuberantes! A alvura sem par daquela tez quase me conduziu ao frenesi. Que exemplar de fêmea! Perguntou sobre ti e tuas crias.
Tarantela maldita! Teve seu volume aumentado e movimentos frenéticos das vadias também sem intensificaram. Adeus, Barão. Agora, vou mandar esse bandoleiros ao mais distante dos círculos infernais.




Ludwig von Schwarzwald

Fabula do macaco rebuscado

Aquele era um macaco muito chato, vivia inflando o volume da bolsa escrotal dos outros animais. Alem de importunar toda a fauna local, o primata freqüentava residências de homens, onde efetuava pequenos furtos e suas mais diversas modalidades de traquinagem.

Cansado de tantas travessuras, o veado Anselmo, conhecido na noite como Charlotte Raio Laser, resolveu derrubar com a extremidade do seu membro inferior o suporte sustentáculo de uma das unidades de acampamento: o macaco finalmente iria romper a sua face simiesca.

O mamífero ruminante da família dos Cervídeos estava realmente decidido a praticar a desforra, nem que para isso tivesse que aplicar a contravenção do Dr. João, deficiente de um dos membros superiores. Não passaria daquele sábado.

Após o crepúsculo, Anselmo iniciou seu plano de vingança. Trajou-se como Charlotte, pegou uma garrafa de vinho e dirigiu-se à Curva da Toupeira, local onde o símio se encontrava. Devidamente disfarçado, não levantou quaisquer suspeitas, seduziu-lhe e ofertou-lhe o vinho. O vinho não era de boa qualidade, mas como bucéfalo de oferendas não exige boa formação ortodôntica, ele aceitou.

Com grande voracidade o macaco sorveu todo o conteúdo do recipiente, vindo a bodar logo em seguida. Assim, como o orifício circular corrugado, localizado na parte infero lombar da região glútea de um indivíduo em alto grau etílico deixa de estar em consonância com os ditames referentes ao direito individual de propriedade, ele ficou a mercê sexual de um bando de lagartos. Esse batráquio o bugio teve que deglutir.

Friday, January 14, 2005

Hino a meretriz amaldiçoada

Uma puta de carreira
Brilhante e fenomenal
Senta à penteadeira
E prepara o ritual

Ritual de arrumação
De uma face que outrora
Conquistou muito tostão
E há muito já foi embora

Maquilagem bem singela
Repara timidamente
O sofrido rosto dela
De feiúra veemente

Ela vai até a praça
Ambiente de espera
Como fica uma carcaça
Aguardando uma fera

Não são muitos os clientes
Dispostos à contratá-la
No geral, são decadentes
Com ela na mesma vala

O ínfimo pagamento
Em troca do seu serviço
Dá só para o alimento
E nada mais além disso

Qualquer coisa é recompensa
Do alfinete ao foguete
Aceita logo, nem pensa
De bêbados é banquete

Coitada, já se conforma
Com esse cruel remate
E pretende, dessa forma
Sofrer o seu xeque-mate

Das peças é um peão
Que por peões é comida
Levando com devoção
Sua miserável vida

Há quem guarde essa puta
No interior da mente
E depois de muita luta
Considera-se decente

Leva contigo o chicote pra vaca não desgarrar

O noivo que paga o dote
Leva a moça ao altar
E em lençóis de chamalote
Logo vai comemorar
Mas pronto pra dar o bote
Negão fica a esperar
Leva contigo o chicote
Pra vaca não desgarrar

Cansada de fazer trote
A égua do Baltazar
Guardou as coisas num pote
Pra de noite escapar
E junto com o capote
Construir um novo lar
Leva contigo o chicote
Pra vaca não desgarrar

Depois que tira o coxote
O herói vai se deitar
Coitado do Dom Quixote
Não consegue imaginar
A mulher dançando xote
Na festa do marajá
Leva contigo o chicote
Pra vaca não desgarrar

Tuesday, January 11, 2005

Curto como a validade da membrana

Pense na fragilidade de tudo
No canal em que estamos imersos
Entre úteros e vulvas dispersos
Onde vê o cego e fala o mudo

Na magnitude do himeneu
Que mal começou e já morreu
No hífen usado pelo escritor
No hímen rompido pelo doutor